escrito dos 8 aos 15 anos
publicado em 1995
edição esgotada
edição esgotada
Amorfo
Nasceu
do ovário
uma
criança que ainda não foi fecundada.
Saiu
do útero a vontade de fecundar.
E o
que veio ao mundo
não
tem forma.
Ninguém
sabe se respira.
Nasceu
órfão.
Não
é líquido e nem sólido.
Pegajoso
também não é.
Não
tem olhos – talvez não tenha rosto.
Não
cheira nem chora.
No
peito traz uma pedra.
Não
é uma “coisa” mas também
não
é gente.
Não
sabe se vive ou se é sobrevivente.
Pode
ser artista ou poeta.
Cromossomos
a mais ou a menos?
Sabe-se
que é insolúvel.
E
pode modificar o mundo
com
sua etiqueta onde está
escrito
“STOP”.
Parto
Os
olhos amanhecidos com gotas cristalinas.
Os
lábios arroxeados de forma fúnebre.
Os
lençóis na janela como cortina.
Existe
algo de inimigo no ar.
Um
tirano junto a nós.
E a
respiração será que ainda vive?
Pesadas
defuntas e moribundas senhoras
estão
lá para ver o teu fim.
Os
cavalheiros de cavalos alados
galopam
pelo seio da virgem
com
o sexo de criança.
Escorregam
pelo limo de tuas orelhas.
Apontam
com os dedos
o
silêncio do oceano.
E o
pulso como está? Está quebrado.
Coloquemos
a atadura.
Os
dentes amarelados e manchados de batom
engolindo
a noite e despindo a aurora.
Pacientemente
o inimigo espera.
-
Cuidado, ele pode salvar-te.
O
corpo úmido e frio
aquece
as unhas sujas do soldado.
Nas
raízes do ventre o luto está sendo gerado
para
um parto normal.
Anamorfose
Emoções
coaguladas.
Olhos
propaganda
na
vitrine.
A
sombra satisfaz
tocando
na luz.
Na
rua há um passo
indeciso.
Cidade
enfeite.
Observando
a chuva
em
uma distância oblíqua.
Pousando
para o vento.
Notícias
de jornais:
quarta-feira
é dia de voz.
Absorvendo
o frio
o
rosto se completa.
Coleção
de cores:
nunca
é arco-íris.
Sr. Selvagem
Imensidão
solar.
Gestos
intocáveis no reflexo do mar.
O
girassol não gira.
Alua
iluminou a silhueta do ferro
cruzando-se
com o aço.
A
massa do cimento
é
areia movediça.
Olhos
vendados com luzes piscantes.
Vidros
rasgados na página do tempo.
Entre
a loucura e o paraíso
está
o inferno.
Inferno
íntimo e abstrato.
O
infinito está ali.
Somos
o além que está por aí.
A
nuvem desenhou uma boca
engolindo
cérebros indigentes
O
relógio despertou:
os
ponteiros não marcavam hora.
Segundos
eram os minutos
dos
lábios digerindo a língua.
Muralhas
separam a vida da sobrevivência.
Talões
de cheques compram olhares amorosos.
Músicas
sintéticas nas cores de Londres.
-
Braços levantados como bússola
para
o lado direito: norte, nordeste, leste.
Sr.
Selvagem entrou em estado utópico.
Destruição
Na
moldura de uma escultura
está
iniciando o templo obscuro.
O
azul do mar é indecifrável:
as
ondas são normais.
O
INFINITO TEM CONTINUIDADE
PERFEIÇÃO
INCERTA
Ficar
parada sem pensar:
lógica
incansável e decadente.
a d
i
s
t
â
n
c
i
a se envolve numa névoa cinzenta.
Um
coração de safena separa o nosso
A M
O R
Pensamentos
envolvem o oceano:
virou
em raios ultravioletas.
Emergiu
das profundezas um titã
que nos levou ao gozo.
Corri mais do que o dia
para esquecer
o dia de ontem.
Ninfose
Som
do escuro.
A
cidade atravessa o corpo
enquanto
o objeto é o culpado:
olhar
veneziana.
Novamente
fica escuro.
Me
giro
MEGIRO
ORIGEM
a
noite aparece vestida
de
flor.
A
respiração da sombra
grita
nos olhos.
Tato
quase apagado pelas
perfeitas
digitais.
Gravuras
Neblina
no copo:
objeto
da ausência.
Para
desmaiar finja-se
de
escuro.
Outubro
é um mês
boiando
sobre as algas.
O
dia estremece sobre o nó.
Lua
de pedra na parede luz.
Trouxe
um lençol para cobrir o teu rosto.
Falhando
a sombra aflita.
Reunindo
todos os gestos
para
os enxovais.
O
para-brisa não limpa
espalha.
Escorregando
para dentro dos olhares.
Preenchendo
o meio do silêncio.
Imagens
eternas dos trapézios
pendurados
no vácuo.
8º andar
Criaram
o Haraquiri.
Fizeram
sobrancelhas em foram de triângulo.
Todos
estão dançando vira
em
sonância parada.
Vista
pornográfica.
Pentes
quebrados em cabelos lisos.
Mentiras
enfeitam os quintais:
alicerces
da casa.
Matem
o revolucionário.
A
alienação come sal e bebe vento
“tsé-tsés”
estão no 8º andar.
Olhem
o calendário do ano zero.
Jornais
publicam a queda dos seios.
Determinado
número elevado ao quadrado
gera
impotência.
O
sarcófago está com a parede quebrada.
-
não entrem:
É o
inferno que está lá dentro.
A
energia acabou.
Abelhas
produzem mel em bocas de caveiras.
Veio
uma mão do infinito e abriu a porta:
o
8º andar está aberto.
Evidência
Imagens
e atitudes garrafais.
Interrompo
a linguagem
para
um sono antigo.
Há
uma desigualdade
entre
os passos:
falsas
sombras.
No
vácuo do copo e do vidro.
A
campainha busca a não-ausência.
Dedos
se perdem no escuro
e tornam-se
corpos.
Não
retorne para os lados
dos
gases néon.
Cavernas
no rosto.
O
animal não move o ego.
Pela
sombra só não passa o sol.
Declínios
de desejos:
silêncio
cru.
Ensaio
A
noite extinta
nos
utensílios.
O
desejo pula o muro
disfarçando-se
de sombra.
- o
nome não tem identidade.
“Retiro-me”
Abelhas
invadem
os
gestos do reflexo.
Dia
monossílabo:
escândalo
enferrujado.
A
essência da expressão
é
uma feição calada.
O
girassol procura a claridade
que
o escuro traz.
Pés
descem da morte.
Olhos
ejaculam o mito da luz na lâmpada:
crença
da lua.
Luz apagada
Prenderam
a gestação numa garrafa
de
vinho francês.
Desenharam
a geografia do teu corpo
e
esqueceram de cortar o cabelo.
restos
de tristezas
vestiam
seus uniformes cor de ameixa.
Um
grito cortou a faca.
Então
bebi álcool
e
ingeri várias substâncias:
não
sei se morri.
A
taça de areia quebrou.
O
vento foi construindo formas.
Mãos
e janelas rachadas.
Oceanos
dão luz a seres gelatinosos:
não
é água-viva.
Os
dentes se contorcem de alergia.
desintegrou-se
o infinito.
A língua do “i"
Impossível,
impassível, inacreditável,
incompreensível,
inédito, ignorado.
De
súbito ninguém entendeu.
Com
o tempo, menos ainda.
Instrumentos
desafinados.
Metais
distorcidos.
Gatos
perdidos e narcisos para todos os lados.
Os
guerreiros prendem as almas.
Bebem
vinho de sangue.
E
choram lágrimas amarelas:
gotas
em forma de “i”.
Subitamente
o súbito apareceu.
Ninguém
entendeu.
Nem
depois.
Vários
sapos pularam a cerca
viraram
a esquina e foram embora.
O
fogo fugiu do sombrio.
Todas
as pessoas foram mortas
e
enterradas a 1 cm. abaixo do chão.
Todos
fizeram ‘i’.
E
as moscas fizeram: Zuuuuuu!
Quadrilátero
Pintem
os reflexos no espelho.
Vidros
estão crucificados em bocas de veneno.
O
rádio anuncia o naufrágio dos bancos.
Paredes
de lã e blusas de concreto.
A
mudez está quieta.
Na
ponta da faca está a morte.
No
cabo está a fome.
Determinadas
separações não acontecem,
simplesmente
ocorrem.
Preparem
o forno para queimar a noite.
O
tempo está preso numa caixa metálica.
Tenho
o instinto da extinção.
Aqui
é estrada de pedra.
O
sol úmido parece chorar.
E
eu estou fumando esperando o inverno
para
me aquecer.
(Res)piração
O
rosto está grudado nas grades da janela.
O
coração estático bate freneticamente
ao
som do desespero.
A
respiração mostrava a ideia perdida.
De
repente surgiu o alívio imediato:
Garganta
imortal.
Revolução
cósmica
contra
a rebelião dos átomos.
O
pé sujo de lama sangrou com a dor
de
um inocente.
Explicação
da natureza morta:
não
existe copo de água.
O
sujeito da frase é o óbvio.
Do
outro lado da avenida é sombra.
No
escuro não há fundo.
A
lágrima ficou sólida
ao
se olhar no espelho.
O
dia simplesmente passou pela retina
e
virou rotina.
Vozes
e ecos reduzem o ouro em pó.
Gnoma-provérbio
Eu
passo só passando com um refrão.
A
chuva pode falhar
e
secar espelhos.
Já
é tarde o dia:
se
feriram nos plásticos.
O
transparente e o invisível
sempre
dão o mesmo sinal:
Aqui
é escuro e lá fora é o mesmo.
Não
é raio laser é fora de forma.
Se
viro para o lado é apenas mais um gesto.
Atrás
dos degraus há uma queda.
No
fim dos olhos você enxergou o túnel:
o
escuro nega.
O
sol está limpo:
antisséptico.
No
fim do túnel
você
enxergou o escuro.
- a
luz cega.
Há
um espaço em branco na linha do parágrafo.
Cabines
de televisão e cabines telefônicas
apresentam
o próximo programa:
“a
outra fase do Super-Homem”.
De
leve vou ficando.
Só
nos dois sabemos o que acontece atrás da janela.
Oblíquo
A
distância cai como um lençol
esticado
no varal.
Frutas
em forma de caracóis
enfeitam
o porto.
Lembranças
estão empoeiradas:
Passem
um pano e está tudo limpo.
Um
silêncio quadrado
passou
pela fresta da porta
e
pulou a janela.
Oceano
e suas sereias:
gestação
aguda.
Apito
sem som.
Eu
examino o submerso dos teus olhos
em
busca de telegramas.
Umidade
medida: zero grau.
Repolhos
estão em delírios.
O
que estava seca era a morte.
Esplim
A
cor é muda.
E o
sol não se pronunciou.
-
traje de luz.
Os
movimentos já conhecem o reflexo.
Já
está construída a máquina da ilusão.
Locomovendo
o corpo
a
sombra deixa sua mensagem vice-versa.
Olhar
guerreiro.
Durante
a queda não há instante.
Vidro
pendurado na parede.
A
claridade já não se esconde
em
qualquer canto.
Fotografar
a imagem
atrasada
do espelho.
O
dedo em estado de mímica
rascunha
as formas.
Suspensóide
“goles
de abismo”
VOCÊ
avançou
O TEMOR
invertido
GOZO
DE DEUS.
O
corpo é uma massa
que
não se move.
Uma
idéia se reflete
no
espelho
A
parte inferior dos olhos
é o
vácuo.
Buscando
com os dedos
a
luz se apaga.
A
aparência do sol
é
azul.
-
filme queimado.
Minhas
palavras são de vitrais.
Chusma
Não
coloquem os dedos ali.
Lugar
absinto e filas de chiclete.
O
que é claro estraga a antena.
Luzes
de cartazes no escuro.
Recolho
pedaços de alguém:
reconheço
as lágrimas.
Riscos
passaram na minha frente.
Os
sinais estão com placas fechadas.
-
comecem a ver navios.
Dor
da cor dos cabelos.
Estrutura
plástica em nuvem de néon.
Agonia
no solo.
O
homem ao lado engoliu a programação
e
ficou parado assistindo o reclame.
O
negativo queimou porque ninguém contou até dez.
O
vento passou pela cicatriz
quando
a surpresa começava a limpar os óculos.
A
princípio mas há muito tempo
surgiu
uma evolução em miopia.
Restou
uma luz embaixo da porta.
Abriram-se
as mãos e depararam-se com o escuro.
Abre-se
um céu límpido.
Não
te liguei mas quero te ver.
Daqui
a pouco chove e voltam a reprisar
os
mesmos movimentos.
Vezo
Treinando
os gestos.
A
lágrima desmaia
na
criança-nuvem.
-
Sombra rodando.
O
sol é uma cor de vermelho
simples.
Dedos
descem sobre o dia
tecido
pela aranha.
Se
o grito sair
mancha
o espelho tatuado.
- O
reflexo está com febre.
Corra
para ouvir a luz chegar:
imagem
sem cor.
De
um canto para outro
nota-se que
o
ser é um não-objeto
que
circula
em fuso horário.
Liquidificador
Jogo
de dados e números invertidos.
No
meio das sombras um rio de inverno
passa
por entre as paredes.
Atrás
da cortina sempre há alguém
esperando
pelo beijo.
Tudo
cai sobre o rosto de plástico.
Mãos
ocultas soam o alarme.
O
limo entre os dedos
indicou
a data do calendário.
Foco
de luz sem explicação.
Um
raio reflete o rosto no espelho.
A
pintura é feita a óleo de disfarce.
Folhas
mortas passam por nós.
A
tarde ficou esperando o seu chamado:
o
relógio não toca.
Elétrons
O
barulho atrás da janela assustou-me
-
confundo-me.
Os
cães latem. Eu não me mexo.
Os
cantos da casa cheiram a mofo:
apenas
detalhes.
Os risos
na esquina são à toa.
O
escuro é o mesmo
e
as formas não estão lá.
Anteontem
o futuro parecia
ser
mais claro:
interruptor
desligado.
As
coisas perfeitas só acontecem
quando
corremos dentro de um quadrado.
Digito
os dedos na tecla
e
logo vejo letras.
Não
me estranho
com
esse cais de âncoras.
Cutuco
nos seus olhos de plástico
e
vejo lágrimas.
Desejam
tentam se perder
entre
as pernas pardas.
E
mais uma vez os lábios
pedem
o bis do refrão.
Pinceis
O
som atrás daquela porta é suave.
Pés
passaram pelos vidros da cidade.
Palmas
ecoaram por todos os ouvidos.
Eu
olhava uma bailarina
e
caí no abismo.
A
luz sobre o claro não teve solução.
Os
dedos se mexem em frente aos meus olhos.
Tudo
passou despercebido pelos jardins
enquanto
o resto se quebrava.
As
coisas invisíveis estão ali naquela direção.
As
formas desaparecem quando nos olhamos
e
vemos algo mais.
Todas
as vezes parecem iguais
quando
o ponteiro não anda.
Tudo
está sobre o chão e cantos:
mistura
de cores e sombras.
Nada
passou pela fechadura à procura de beijos.
Dois
espaços foram feitos apenas por um lado.
Atrás
da cortina pode haver espelhos.
Moscas
zumbiam sobre as pernas na avenida:
cartão
postal.
Metrô
Pálidos
dedos em movimentos diferentes
circularam
a circunferência dos lares.
Loteria
compra cobertura na favela.
Gosto
do escuro quando a luz está acesa.
Acordo
às três da manhã
para
saber de onde vem a diferença.
Misturei
o sonho com a realidade:
o
peixe sobreviveu fora do aquário.
Não
te beijei por maldade
só
precisava de alguém.
Para
limpar a boca usei detergente.
Quero
paz no inferno.
Metrô
Metrópole. Começo da linha.
Quero
paz no inferno.
Para
limpar a boca usei detergente.
Precisava
de alguém:
Só
não te beijei por maldade.
Quando
a luz está acesa gosto do escuro.
Metrópole
Metrô. No meio da linha.
Ouvi
no volume máximo
o
irritante barulho do relógio.
Pintei
a flor para não te esquecer.
Não
sei como você é.
Fim
do Metrô Metrópole.
Sombras torturosas
O
inimigo está no ar.
Fiquei
esperando o inverno chegar.
Singularmente
melancólico:
é
apenas um retrocesso.
Lábios
jogavam beijos
que
não passavam pelo meu rosto.
O
corpo é apenas um corpo sem forma.
Na
sala as flores morreram e o telefone não toca.
Apertei
o botão e esperei timidamente
o
seu sorriso de plástico.
-
Alguma coisa muda.
A
sílaba desfeita modificou a palavra.
Caminhos
disfarçados brilham no escuro.
Caí
no chão e não pude fazer nada.
A
noite chovia e o céu negro era meu retrato.
Pés
caminhavam na mesma direção.
Guarda-chuvas
atrapalhavam a elegância.
Atitudes
sincronizadas.
Nem
um nervo a mais se mexe.
Estátuas
e tatuagens:
O
colorido não brilha. Empalidece.
Giro
a roleta.
Busco
a saída e porta está fechada.
Equilibro
o meu corpo em cima dos meus pés:
impossível
que a janela não abra.
Prótese
Dentaduras
plásticas.
Quando
morri senti os vermes
comendo
minha pele e então voltei.
No
céu passou um pássaro sem asas.
O
tédio está deitado na cama
fazendo
gracinhas.
Improvisem
cadeados para fechar o regulamento.
Bocas
estão falando de diferenças.
Atitude
em forma homogênea.
Espelhos
estão dentro dos olhos
que
estão dentro dos espelhos.
O
copo dentro da pia rachou.
O
abismo preparou sua armadilha.
Anjos
sem nome procuram a extensa solidão.
Prazer
preso em bolhas de sabão.
Mulher
crua de pernas nuas
abre-se
para mim.
Não
se encontram mais camas sujas
de
sangue e esperma.
Vestígios
molhados num repouso nutrido.
Camisa
de força no meu corpo:
não
sou louca,
sou
a unha que precisa ser cortada.
X – que se funda o processo da
fotografia através de corpos opacos
A
água desceu estranha.
Chego
mais perto para ouvir uma música:
saída
à francesa sobre a mesa.
Não
importa o atraso,
o
importante é que você veio.
Ouça
o espirro no fim do mundo, no fundo.
Autópsia
no afogado.
Outra
vez os mesmos cortes.
Tudo
ficou de cabeça para baixo a rodar.
Não
há ninguém tocando a campainha.
Ainda
não lavei o rosto
e
se estou acordada não sei.
Qual
a diferença entre os dois lados.
O
que é que acontece: mediato.
Parecia
ser solidão o que estava errado.
No
mais desatino e desafino
eu
estar aqui e ali ao mesmo tempo
e
no mesmo lugar.
Entre
um rascunho e um abstrato.
Paredes verdes
A
mão descobriu o rosto
e
os olhos caíram no espaço.
No
mundo amortecido nascem mentes
em
estados inconscientes.
Em
determinado momento o instinto
transpassou
a razão.
Mãos
aflitas apertaram o botão da campainha:
o
infinito está morrendo. Ficou irreconhecível.
Esclareceram
a hipótese de uma geração.
A
gestação misturou-se
com
os arranha-céus da cidade.
Propaguem
a propaganda problemática e arrogante.
Mulheres
estão ao mais longo beijo
e
ao mais curto abraço.
Calaram
o nome do indigente
que
escreveu a frase da linha cruzada.
Difamação
aplaudida: apogeu.
Estou
andando.
As
pessoas sorriem. Porém disfarço.
Entre
quatro paredes e um chão
não
existe nenhuma saída.
Rangem
os dentes. Coração para. Garganta seca.
Estilo
Há
um silêncio nos olhos.
Produzindo
movimentos escuros
a
luz se prende no espelho.
Quebrando
a viagem:
a
imagem dói.
Dupla
sombra
de
pétalas vazias.
Oriente
a dor
para
a pausa musical.
-
Não se afaste dali:
depois
é só um passo.
Um
gesto de delírio
na
vertigem negra.
Fotografando
os pólos
na
curva do sol.
Janelas
opostas refletem
a
claridade da manhã.
Brevidade
O
silêncio espera. Silêncio na terra.
Minhas
mãos estão dormindo profundamente.
Não
há mais tempo.
Homem
cósmico: espelho no deserto.
O
escuro saiu da solidão e criou um labirinto.
O
muro não foi destruído.
Quando
a sombra existir
o
sol não surgirá.
Silêncio
na terra. O silêncio espera. A chuva não para.
Não
há mais tempo.
O
espelho mostra o verme:
a
bela e a fera.
Solidões
verdes e amarelas.
A
chuva não para. Silêncio na terra. O silêncio espera.
Minhas
mãos dormem profundamente.
Nada,
o espelho revela.
Guerra.
O verme entre a bela e a fera.
Alguém
viveu por um segundo e não percebeu.
-
ninguém viveu.
Onda sonora
Não
participe do silêncio.
Um
curto espaço de tempo
é
um sentido.
Companhia
de espelhos.
Produzindo
o ar do vácuo.
Ainda
não tremo.
Uma
fúria preenche o buraco:
margem
do seio.
Negando
o bis do abismo.
A
morte procura o sono.
Corpos
se distraem na luz.
Caricaturas
de árvores.
Refilmagem
O
dedo escreve no pó.
Um
clássico movimento
atravessa
a rua.
Uma
flor se declina para o sul.
Iluminando
os olhos.
Uma
insônia se perde nos gestos.
Olhar
seminu.
Te
peguei com a palavra em flagrante.
Um
ar fresco se enrola no cabelo.
O
sonho bóia na mão.
Embrulhe
a lágrima para presente.
Luz
O
corpo está curvado diante do outro.
O
espaço era pequeno para se poder ficar minerva
Tudo
parece escuro quando fechamos os olhos:
cores
confundem os brilhos.
Do
fundo pode-se ver mais um buraco.
A
noite nos persegue por dois segundos
e
se transforma em madrugada.
O
tombo entre os dedos
surgiu
para criar cenas repetidas.
O papel
em preto e branco não é fotografia.
Tudo
está ficando de lado cobrindo os olhos:
escuro
da lâmpada.
A
claridade sobre mim era algo sem forma.
A
verdade que chegou atrasada
bateu
com a testa ali.
Aqui
está tudo limpo e tudo longe.
Apagaram
a luz e o sol ainda não apareceu.
Tela plana
Aconteceram
momentos de simples gestos.
Atravessei
correndo a paisagem da fotografia
esperando
eliminar os sorrisos falsos.
Formas
nominais: particípio.
Só
passaram a trocar canais quando os números
estavam
ficando irreconhecíveis.
A
cena não mudou.
Olhe
nas luzes que as maquilagens são iguais.
Apresse
o passo.
O
beijo que te dei
foi
o último depois do café.
A
lágrima se esparrama sobre uma tira de jornal:
identidade
Rotina
e retina empoeirada,
colírio
não adianta.
O
rosto que aparece na tela
é
apenas uma foto com um fato.
Cálculos
de hipotenusas e torturas chinesas.
A
cortina nunca tapou nada.
Só
escureceu os olhos de quem queria ler no escuro.
Deram
o sinal. Ponto errado:
outro
canal.
Quem
pagou a passagem?
Walls have ears
Nem
sempre é possível distinguir
o
som do tiro com o da batida.
A
visão passa por detrás da retina.
Varizes
e meias de seda passam pela rua.
Há
um olho nu na frente do espelho.
Se
as coisas são claras
por
detrás delas existem sombras.
Não
sinto vontade de falar:
o
silêncio não incomoda.
Nada
mudou depois que fecharam as cortinas.
Os
movimentos ficaram perdidos no ar.
Um
sorriso indiferente feriu os lábios.
Lá
fora há um silêncio estranho:
um olho diante da luz.
Significado
e significante
-
vida.
Na
parede passa uma lesma
que
se
arrasta
arranha
r
i
s
c
a.
Título algum
Resistindo
ao acento.
Não
é possível brilhar
na
luz.
Na
tela há óculos
eternos.
Falhando
os gestos
no
reflexo:
percebendo
as coisas ao vivo.
O
seu pensamento
ficou.
Vitrines
vivas
sobrevivem.
Sol
torto nos cacos
da
janela
Imagem
de violino.
Sonhos
dançam
nos
gestos noturnos.
Nada
de fantasias retocadas.
Kilometragem
Eu
não irei a lugar nenhum
e
nem a minha sombra.
O
olho escuro fica diante da luz.
À
primeira vista tudo parece estar perto.
Não
sei se eles existiram
ou
se foi uma miragem dos meus óculos.
Fiquei
olhando os carros passarem pela avenida.
Cheguei
a achar gozado o silêncio do seu desejo.
Reduzi
minha expressão no teu olhar
tela
de ilusões.
Como
ontem a rua estava com todos
os
seus gestos.
Pessoas
em frente à vitrine
prestavam
atenção no outro lado.
Vagamente
a morte entrou na imaginação.
Sobre
o retrato vi uma cidade em chamas.
Lábios
decassílabos correspondiam
com
sorrisos.
Espaço
Me
aproximo e me afasto do vácuo.
Os
olhos vão pintando as horas:
amanhã
será um dia oco.
Uma
imagem desce pelo espelho.
Um
grito seco quebra o silêncio
e
fica boiando na madrugada.
Algo
ficou perdido:
rosto
e vidro.
A
luz está vazia e fria.
Quartos
cheios de perguntas
libertam-se
do tempo.
Uma
fita métrica mede os minutos.
Um
gesto exposto composto esquecido.
O
lábio aflito repete
que
o dia é o mesmo ritmo seco.
A
cidade passa pela janela.
Mulheres
contam as horas perdidas.
Uma
voz se perde no eco.
Imagens
e sons ficam paralisados.
Reflexo do som
O
tempo está distante de tudo.
A
insatisfação se voltou contra mim
com
o seu preço.
Vista
parada:
foto
suicídio.
Quero
uma máquina fotográfica.
Acostumei
a receber recibos
na
troca de beijos.
-
Nada de sol
Não
deito de costas
pois
quero decifrar o teu sorriso.
Sono
dos olhos.
No
esquecimento não te coloquei a cor.
Vestindo
o vento perdido no ar.
O
copo e o espelho são coisas.
Título
absoluto.
Óbvio
Pés
passaram pelo degrau
de
gesso.
Pelo
olho mágico
vejo
o mundo fora de órbita.
Não
se acostume
com
a forma do espelho.
Na
geografia do olhar
um
rosto se esquece.
Aquecendo
os girassóis
nos
dedos.
Há
um corpo nu
no
ventre do inverno.
As
pessoas são:
nada
muda o verbo.
Rimando
o som
o
vento passa pela porta.
No
vácuo da palavra
o
silêncio chove.
Pousio
Tudo
passou despindo a face.
Os
passos na rua são apenas passos.
Há
um silêncio único
na
reconstrução da imagem.
Todas
as coisas parecem pequenas
quando
estão longe dos olhos.
Corpos
se atravessam.
Eu
vejo riscos
passarem
na minha frente:
pessoas
e fotografias.
Rotina
da retina invertida.
A
sombra não aparecerá
e a
noite simplesmente chega.
Eu
me mergulhava no sono
de
um café da manhã e transportei-me
diretamente
para o medo.
Sustentaram
um reflexo
com
uma folha de jornal.
Nada
acontecerá antes do pôr-do-sol:
nem
o pôr-do-sol.
No
espelho apareceu a imagem do susto.
MUSEU DE PLÁSTICO
Debuxo
Não
há conto e nada move.
Pela
rua as vitrines passam na passarela.
Encontramos
um conjunto de nus.
Habla
de uma mentira envidraçada.
Novamente
o susto de cores.
Torcendo
as luzes com a unha
para
matar os insetos.
Calçadas
ambulantes
e
postes sem vida.
Um
corpo sobre a sombra
sobe
a rua principal de lugar algum
gritando
a forma para se ajustar na tela.
Não
busque! Ache!
tomando todo o cuidado
para
aprender a prender.
Colaborando
com a ausência
deixada
no espelho.
Formas
neutras não existem.
Todo
o lado é um positivo desnutrido.
Calma!
e logo saberá uivar na lâmpada.
Felá
Através
do vento
o
grito passa.
-
Há um vazio esbarrando no espelho.
Átomos
de adrenalina
buscam
a mesma posição.
Camelô
vende talismãs zodiacais.
“Olhar morto”
O
amor ficou enrolado no beijo.
Terminando
com “e”
constitui-se
a frase.
O
riso passa vestido de lágrima.
Lentamente
despiam a manhã.
Gestos
procuram orgasmos.
O protetor da lua
Pedras.
É
pelas pedras que ele vai
Trajando
o sol
Chapéu
escuro
Falas
de pirilampos.
(O
morro é logo ali)
Inutilmente
o brilho
está
jogado no chão.
Azul!
A luz era.
A palavra traço
O
sorriso ficou esperando alguém no asfalto.
Dedos
ficaram parados
cutucando
a ferida.
Um
desenho meu com traços teus.
Na
falta de cores utilizei sombras
para
fazer o brilho do sol.
O
pensamento envolveu-se
numa
concentração alucinada:
labirinto
de desejo.
A
beleza ficou inacabada.
”desejo
oral”
Sustentando
a tela só com traços.
Fotosombra
O
medo é a lucidez dos vidros.
Olhar
sem resumo.
Pés
andam no dia quebrado.
Os
gestos se confundem no brilho.
A
dor chega mastigando.
Silêncio
vivo:
girassóis
na estrada.
Os
dedos naufragam nos sentidos.
Pintura
dos astros.
Acordando
os movimentos
o
vento passa.
- a
sombra tem fundo:
fundo
do índigo.
A
forma da ilusão.
Diante
do olhar o reflexo
do
vácuo.
Espelhos caracóis.
Foto instantânea
Astros
teatrais.
Tonalidade
sobreposta.
O
hoje já é o antigamente.
Vestígios
debilmente morais.
/
ESPELHO SEM NOME /
objeto empoeirado.
Silêncio
úmido.
Substituição
precipitada:
eco
de palavras.
Exalando
a poesia em forma de ervilha.
O
desejo ainda não chegou.
O
dia nasceu desesperado
preso
em girassóis.
Uma
frase rompeu o silêncio
e
tornou-se uma equação.
Olhos
tombaram num grito mudo:
pintei
a moldura com um reflexo da sombra.
Batologia
A
noite é clara.
Meio
copo não salva
ninguém.
Corpos
mentem.
Há
dentro do escuro
um
riso fechado.
Vento
esfria moléculas.
Aparece
um som
na
rua:
não
são de passos.
O
susto para o ar.
Espelhos gestuais
Mais
um escuro dentro das formas.
Eu
tinha imaginado algo:
O
negativo das ilusões.
faltam
a a
d t
a a
sábias
Pessoas
olham a demora do fato.
Sempre
há passos.
Estrada
errada:
setas
sem comunicação.
Não
faça trocas.
As
últimas palavras
sempre
dão sono.
Dissolvendo
o sorriso
em
copo de plástico.
O
fim é uma porta que não
abre
latas de tinta lembram
arco-íris:
infinito pintado.