quarta-feira, 30 de julho de 2014

Palavra


(poema sem título)

Palavra…
Luz ingrata!
Admitais ao menos
uma vez
que pela gramática
fostes domesticada.

Palavra…
tremor da fala,
pensamento febril
da boca que cala.

Palavra…
inventário da galáxia,
dormiteis no feto
de uma rima rara.

Palavra…
Limbo cotidiano,
vossa proeza é deixar pó,
como objeto, na língua
daquele que vos fala.


(do livro Palavra)

simples assim...

simples assim...

para se abrir
a flor
cativou pétala por pétala
o pensamento de deus



do livro chorando reticências

Madrugada na janela

(poema sem título)

Madrugada na janela
e juntos
de mãos dadas
domesticávamos o coração

Ninguém sabia
mas
na fotografia não éramos felizes

Havia uma avidez
de vida
de fome
de água

Havia uma discórdia
no retrato do tempo

No mar que banhávamos nosso
indiscreto desejo

o oceano já estava seco.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Toda palabra

(poema sem título)


Toda palabra es una planta carnivora
dentro de nuestra boca

Las palabras posan con aflicción
sobre nuestra lengua y se escupen
para el mundo más allá del labio.

Parte sola

y bajo el abismo del universo
en las bocas muertas y vacías
la palabra se entierra en el eco.



do livro Palavra 
(traducción Teresinka Pereira - 
publicado na revista Clarin 556 - Espanha)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Eu caminho

(poema sem título)

eu caminho para o futuro
com os mesmos pés de ontem.
caminho sabendo que o agora
é o único destino que me importa.
caminho para o além
porque nasci em carne crua
e alma lavada.
estou me expondo ao vazio
mas mesmo assim
não quero comer e beber da sua piedade.
quero é cuspir no prato
que me alimenta
e me dá falsas esperanças

(do livro Mosaico da Insônia)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O mundo que habito

(poema sem título)


o mundo que habito
e piso diariamente
com os pés cheios de ânsia
cheios de lama
cheios de nada.
esse mundo que nego
renego
e necessito
é o meu sonho de esperança:
- dias melhores virão...
e assim com a conformidade
no conforto das mentiras
adormeço
e sonho com o amanhã
sem saber que o amanhã
já é o hoje que me consome.

(do livro Mosaico da Insônia)